DEPOIS DO CARNAVAL, O CINEMA PÕE O BLOCO NA RUA.
EXPORTAÇÃO DE TALENTOS, OS ESNOBADOS DO OSCAR® E DAKOTA CAI NA TEIA ATORES E ATRIZES BRASUCAS QUE INVADIRAM HOLLYWOOD
Gabriel Leone é o mais recente de uma longa lista de estrelas e astros brasileiros a trabalhar na meca do cinema. Em “Ferrari”, seu primeiro longa internacional, Leone faz o papel do piloto espanhol Alfonso de Portago. O ator divide os holofotes com Penélope Cruz e Adam Driver, que dá vida ao fundador da escuderia, Enzo Ferrari.
Aliás, aproveite que está aqui e dê uma conferida neste episódio do podcast Traz a Pipoca para curtir o papo delicioso de Gabriel com Bruna Scot e Renata Boldrini.
Uma antiga tradição
A migração de talentos brasileiros para Hollywood remonta ao início da própria história do cinema. O paraense Synésio Mariano de Aguiar foi o primeiro artista nacional a filmar por lá, em 1918! No ano seguinte, Syn de Conde, como assinava na época, trabalhou sob a direção de ninguém menos que D. W. Griffith, o pai do cinema narrativo clássico, em “The Girl Who Stayed at Home”. Syn rodou vários filmes nessa indústria nascente, ficou amigo do lendário Rodolfo Valentino e amaldiçoou o dia em que voltou para o Brasil.
A Pequena Notável
Apesar de nascida em Portugal, Carmen Miranda veio pra cá com apenas 1 ano de idade. Ela ainda é a artista brasileira que mais se projetou pelo mundo afora. Mesmo cantando em português, conquistou os States com suas fantasias, balangandãs, frutas, sorriso e presença contagiantes. Primeiro essa “baiana estilizada” fez sucesso na Broadway. Depois estreou nas telas de lá em “Serenata Tropical” (1940). Contratada exclusiva da Fox, Carmen foi dirigida pelo famoso coreógrafo e encenador de musicais Busby Berkeley, em “Entre a Loura e a Morena” (1943). Com exceção de “Copacabana” (1947), com Groucho Marx, ela nunca fez o papel principal, mas se firmou como atriz cômica, além de cantora, e contracenou com gente do naipe de Don Ameche (“Uma Noite no Rio”, 1941), Betty Grable (“Minha Secretária Brasileira”, 1942), Elizabeth Taylor (“O Príncipe Encantado”, 1948), Jane Powell (“Romance Carioca”, 1950) e Jerry Lewis (“Morrendo de Medo”, 1953).
Tudo bem, Carmen imprimiu em celuloide a imagem exótica da qual as futuras gerações de artistas brasileiros precisaram se libertar. Os colunistas daqui a malharam bastante dizendo que ela voltou “americanizada”. No entanto, o mito ficou e foi lembrado em uma participação especial de Denise Dumont em “A Era do Rádio” (1987), de Woody Allen.
Retomando o caminho para Hollywood
Nossa grande Marília Pêra arrasou em “Pixote: A Lei do Mais Fraco” (1980), de Hector Babenco, que chamou atenção dos olheiros lá de fora. Mas ela só protagonizou um filme americano, o independente “Mixed Blood” (1984), de Paul Morrissey, sujeito que foi da trupe de Andy Warhol. Mais tarde, Marília contracenou com outra gigante, Fernanda Montenegro, em “Central do Brasil” (1998). Esse filme brasileiro, de Walter Salles, também teve projeção mundial e quase deu o Oscar® de Melhor Atriz a Fernandona. Aliás, ela faria a mãe de Javier Bardem em “O Amor nos Tempos do Cólera” (2007), adaptação da obra de Gabriel García Márquez feita por Mike Newell (“Donnie Brasco”).
Mas vamos lá, a primeira atriz a realmente investir em uma carreira em Hollywood foi Sonia Braga, que entrou para o inconsciente coletivo planetário com interpretações de personagens de Jorge Amado, em “Dona Flor e Seus Dois Maridos” (1976) e “Gabriela” (1983), duas produções dirigidas por Bruno Barreto. Só que sua estreia internacional veio mesmo com “O Beijo da Mulher-Aranha” (1985), de Hector Babenco, ao lado de William Hurt e Raúl Juliá. Em seguida, ela faria “Rebelião em Milagro” (1988), de Robert Redford, e “Luar Sobre Parador” (1988), de Paul Mazursky. Neste, Sonia contracenou com Richard Dreyfuss e Raúl Juliá, que voltaria a cruzar com ela nos sets de “Rookie: Um Profissional do Perigo” (1990), de e com Clint Eastwood. Mais recentemente, Sonia Braga foi a mãe de Julia Roberts em “Extraordinário” (2017), de John Turturro em “Ninguém Brinca com Jesus Quintana” (2019) e de Jennifer Lopez em “Olhar de Anjo” (2001) e em “Casamento Armado” (2022). Em breve, Sonia poderá ser vista no terror “A Primeira Profecia” (2024).
Tal tia, tal sobrinha
Sobrinha de Sonia Braga, Alice Braga alcançou um sucesso internacional bem mais consistente que o de sua tia. Aproveitando a vitrine que foi “Cidade de Deus” (2002), de Fernando Meirelles, Alice causou sensação e foi logo escalada para o suspense policial “12 Horas até o Amanhecer” (2006). Esse filme, com Brendan Fraser, foi pouco visto, mas também traz participações de Milhem Cortaz e Matheus Nachtergaele. Só que a grande chance de Alice Braga foi ao lado de Will Smith no apocalíptico “Eu Sou a Lenda” (2007). Seguiram-se então “Cinturão Vermelho” (2008), de David Mamet, que também traz Rodrigo Santoro no elenco, “Território Restrito” (2009), com Harrison Ford, “Predadores” (2010), produzido por Robert Rodriguez, “Repo Men: O Resgate de Órgãos” (2010), coestrelado por Jude Law e Forest Whitaker, “O Ritual” (2011), com Anthony Hopkins, e os recentes “O Esquadrão Suicida” (2021), de James Gunn, e “Hypnotic: Ameaça Invisível” (2023), em que divide o protagonismo com Ben Affleck.
Rodrigo Santoro
Há pouco mais de vinte anos, Rodrigo Santoro entrou mudo e saiu calado de “As Panteras: Detonando”, longa em que vivia um vilão surfista. Com o tempo, Santoro foi ganhando falas e espaço, e se tornou um dos atores brasileiros mais bem-sucedidos em Hollywood. No mesmo ano de 2003, esteve na companhia ilustre de Hugh Grant, Liam Neeson, Emma Thompson, Colin Firth e Laura Linney em “Simplesmente Amor”. Depois, foi Xerxes, o poderoso rei persa das superproduções de Zack Snyder: “300” (2006) e “300: A Ascensão do Império” (2014). Encarnou o próprio Jesus Cristo no remake de “Ben-Hur” (2016). Interpretou o namorado de Jim Carrey em “O Golpista do Ano” (2009) e o marido de Jennifer Lopez na comédia romântica “O Que Esperar Quando Você Está Esperando” (2012). Já em “Golpe Duplo” (2015), Santoro fez o bandidão em uma trama policial que reúne Will Smith e Margot Robbie.
Wagner Moura
Muitos pensam que a ficção científica “Elysium” (2013), de Neill Blomkamp (“Distrito 9”), marcou a chegada em Hollywood de Wagner Moura. Muito antes, porém, ele tinha feito uma pontinha, com Lázaro Ramos, em “Sabor da Paixão” (2000). Nesse filme, Murilo Benício e Penélope Cruz viviam uma tórrida história de amor falada em inglês. Voltando a fita, Moura foi catapultado internacionalmente por “Tropa de Elite” (2007), ou “Elite Squad”. Graças a esse chamariz, ele teve a oportunidade de fazer bonito em “Elysium”, ao lado de Matt Damon e Alice Braga, isso mesmo. Depois Wagner Moura filmou “Trash: A Esperança Vem do Lixo”, no Brasil, com Stephen Daldry (“Billy Elliot” e “As Horas”). Fez o heroico diplomata da ONU Sérgio Vieira de Mello, em “Sergio” (2020), e, no thriller de ação “Agente Oculto” (2022), se viu no meio do fogo cruzado entre Ryan Gosling e Chris Evans. Claro, Wagner Moura também emprestou sua voz à versão original do Lobo Mau em “Gato de Botas 2: O Último Pedido” (2002). Ah, ele poderá ser visto, em breve, na eletrizante distopia “Guerra Civil” (2023), de Alex Garland (“Ex_Machina: Instinto Artificial”).
Morena Baccarin
É até covardia colocá-la nessa lista. Essa carioca se radicou nos Estados Unidos aos 7 anos e construiu a carreira todinha lá. No cinema, Morena se destacou como a namorada do Deadpool nos três longas da franquia.
Experiências isoladas
Sabia que Dira Paes começou sua carreira no cinema aos 15 anos, sob a batuta de John Boorman (“Excalibur”)? Pois é, no filme “Floresta de Esmeraldas” (1985), ela surge como a indígena Kachiri. Já José Wilker contracenou com Sean Connery em “O Curandeiro da Selva” (1992), de John McTiernan (“Duro de Matar”).
Seu Jorge trabalhou duas vezes com Wes Anderson, no recente “Asteroid City” (2023) e em “A Vida Marinha com Steve Zissou” (2004). Nesse último, seu personagem, o Pelé dos Santos, canta e toca versões em português de clássicos de David Bowie.
Enquanto a mexicana-brasileira Giselle Itiê se perdeu em meio ao festival de testosterona do primeiro “Os Mercenários” (2010), Maria Fernanda Candido investiu sua magia em “Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore” (2022), megaprodução do universo de Harry Potter. Já com Bruna Marquezine o assunto foi totalmente diferente. Ela é uma das protagonistas do filme de super-herói “Besouro Azul” (2023). Diga-se de passagem, Bruna é uma das melhores coisas do longa.
E O OSCAR® NÃO VAI PARA…
É isso mesmo. Entra ano, sai ano, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood parece escolher sua lista de esnobados ao ignorar artistas e produções, deixando-os de fora da disputa pelas estatuetas douradas.
O fenômeno comercial “Barbenheimer”, por exemplo, não se repetiu na corrida pelo Oscar®. Tudo bem, “Barbie” tem 8 indicações, incluindo Melhor Filme, mas foi ignorado na categoria de Melhor Direção. Há alguns anos, Greta Gerwig chegou a entrar no páreo com “Lady Bird: a Hora de Voar” (2017), mas ficou de fora quando lançou “Adoráveis Mulheres” (2019). Ok, essa realizadora de mão cheia ainda pode faturar o Oscar® de Melhor Roteiro Adaptado, escrito em parceria com o marido, o também diretor Noah Baumbach.
E Margot Robbie? O que dizer de sua ausência na disputa pelo Oscar® de Melhor Atriz? Ela deu vida a uma boneca! Quer mais? Tá, tudo bem, o Oscar® de Atriz Coadjuvante ainda pode ir para America Ferrera.
Agora, dá para entender por que “Priscilla” não está nessa briga? Sua diretora e roteirista, Sofia Coppola, chegou a ganhar o Oscar® de Roteiro Original por “Encontros e Desencontros” (2003), quando também merecia o prêmio de Direção. E em 2024, nada? É isso mesmo? Nem tivemos a chance de ver Cailee Spaeny entre as candidatas ao troféu de Atriz. Caraca, ela faz o papel-título, a mulher do Elvis, nossa guia pela jornada ao lado sombrio da fama. Para com isso!
E “Saltburn”? Sua diretora e roteirista, Emerald Fennell, assim como Sofia, já concorreu nas categorias de Direção e Roteiro Original. Venceu na segunda, com “Bela Vingança” (2020), quando também poderia ter ficado com a estatueta de Direção. Agora, pelo show de humor sombrio e suspense que é “Saltburn”, ela merecia tudo isso e muito mais.
Aliás, quem pode me explicar por que o extraordinário Barry Keoghan não está entre os indicados ao prêmio de Melhor Ator? Hein? Alguém?
E “Ferrari”? Sério? “Ferrari” também foi completamente esnobado pelo Oscar®! Logo um filme desse gabarito, que poderia muito bem concorrer a estatuetas como as de Melhor Direção (Michael Mann), Ator (Adam Driver), Atriz (Penélope Cruz), Melhor Estreia de Ator Brasileiro em Hollywood (Gabriel Leone)! Fora os prêmios de Som, Montagem, Roteiro Adaptado, Direção de Arte…
VEM POR AÍ NOS CINEMAS
VALE A PIPOCA? “MADAME TEIA”
Se as suas expectativas para esse filme estão altas, preciso lhe dizer que serão frustradas. “Madame Teia” é aquele título do qual não dá para esperar nem o mínimo de uma história em quadrinhos – emoção, grandes embates, efeitos especiais. É tudo muito fraco.
O longa traz a trajetória de Cassandra Webb (Dakota Johnson), uma paramédica de Manhattan que tem o dom de ver o futuro. Pressionada a entender seu passado, ela se une a três adolescentes predestinadas a um futuro muito poderoso.
Faltou tempero
Ao pensarmos em uma super-heroína, o que nos vem à cabeça? Uma mulher de presença, forte, brava, vigorosa, não é mesmo? Mas digamos que Dakota não chegou lá. Ela entregou uma personagem muito sem sal, sem carisma e sem expressão, o que tirou ainda mais a força de Cassandra. Já as atrizes Sydney Sweeney (Julia Carpenter), Isabela Merced (Anya Corazon) e Celeste O’Connor (Mattie Franklin) foram a graça do título. Elas conseguiram trazer um pouco do “sal que faltava”, apesar de receberem um roteiro fraco.
Efeitos nada especiais
Outra coisa que esperamos de filmes inspirados em quadrinhos são fotografias belíssimas e efeitos especiais superproduzidos. “Madame Teia”, porém, também ficou devendo nesse quesito. Os efeitos são muito pobres – muito mesmo – e foram pouco explorados. Para você ter uma ideia, quando Dakota recorre ao poder das teias, a tela fica embaçada, o que dá a impressão de que o artifício foi produzido em baixa qualidade.
Tem mais bomba por aí: o longa é zero emocionante. Todos os embates da heroína com o vilão (Ezekiel Sims) são previsíveis. Ela sempre ganha facilmente. A gente já sabe que o vilão vai perder, mas precisava ter economizado tanto na ação? Até no embate final?
Pra que esse tempo todo?
A única coisa em que a Sony não economizou foi o tempo. O filme tem quase 2 horas de duração e, sim, não precisava disso tudo – não MESMO. A produtora poderia ter explorado a força e o protagonismo feminino, além de toda a riqueza e possibilidades do universo Marvel, mas infelizmente isso não aconteceu.