Quem pensa que efeitos visuais são só coisa de Hollywood está precisando assistir a mais filmes brasileiros. Tudo bem que os exemplos não são tantos assim, mas a verdade é que efeitos visuais já marcam presença em nosso cinema há muito tempo.
Brilho Próprio
Um dos pioneiros nessa área foi José Mojica Marins, diretor e roteirista de terror, criador do Zé do Caixão. Em “À Meia-Noite Levarei Sua Alma” (1964), Mojica driblou a falta de grana com criatividade. Quando precisou mostrar um corpo em decomposição dentro do caixão, pegou uma bacia, misturou miolo de pão, leite, bichos de goiaba vivos e esfregou a maçaroca no rosto da atriz. Dá mesmo a impressão de um cadáver sendo comido por vermes. Para outra cena, colou purpurina diretamente no negativo do filme para criar um halo fantasmagórico em torno de um espírito.
Paródias Avacalhadas
A década de 1970 testemunhou uma série de paródias que avacalhavam grandes sucessos de bilheteria do cinema norte-americano. Se Steven Spielberg arrasou quarteirões com seu “Tubarão” (1975), aqui, em plena onda da pornochanchada, o diretor Adriano Stuart veio surfando com “Bacalhau” (1976). O tubarão de Spielberg era um robô que não funcionou direito. Já o bacalhau grandão feito de fibra de vidro deu pro gasto, em sequências inacreditavelmente “trashes”, com o peixe priorizando ataques a mulheres bonitas de biquíni (os tempos eram outros, minha gente).
Com Alcino Diniz foi diferente. Ele aproveitou o barulho feito pela versão de 1976 de “King Kong” para lançar “Costinha e o King Mong” (1977). Os gringos tinham um gorilão mecânico da altura de um prédio de três andares e que foi muito pouco utilizado no filme (eu tive a chance de ver o bonecão peludo ao vivo quando o produtor Dino de Laurentiis promoveu uma turnê para exibir seu Kong de US$ 1 milhão por várias capitais do mundo). Como o monstrengo era todo durão, qual foi a solução? Bom, para as sequências que exigiam mais flexibilidade, a superprodução acabou usando o batido recurso de colocar um ator em uma fantasia de gorila, ampliá-lo com efeitos ópticos (truques fotográficos pré-computação gráfica) e metê-lo no meio de maquetes. Então, se você comparar o Kong e o Mong (que também tinha um cara em uma fantasia), o genérico nacional até que não fica muito atrás.
Agora, existe uma galáxia de distância entre o “Star Wars” (1977) original, lançado aqui como “Guerra nas Estrelas”, e a paródia feita por Renato Aragão e companhia em “Os Trapalhões na Guerra dos Planetas” (1978). O diretor Adriano Stuart entregou um filme com “defeitos” especiais ópticos que já eram paupérrimos na época e envelheceram muito mal. Mas valeu a gozação.
Um Salto Tecnológico
É evidente que a passagem para os anos 2000 trouxe um avanço tecnológico absurdo. Além do banho de loja digital, houve uma evolução dos efeitos práticos, aqueles produzidos diretamente no set. “Besouro” (2009), de João Daniel Tikhomiroff, é uma produção ambiciosa que resgata a lenda do maior capoeirista de todos os tempos, Besouro (Ailton Carmo). O lado sobrenatural da trama exigia façanhas sobre-humanas. Então Tikhomiroff recorreu ao coreógrafo chinês Huen-Chiu Ku, o mesmo dos dois volumes de “Kill Bill” (2003 e 2004), de Quentin Tarantino, e de “O Tigre e o Dragão” (2000), de Ang Lee. Os efeitos estão na utilização de cabos que içam os atores na hora em que eles vão dar saltos fenomenais. Depois, os cabos são apagados digitalmente. Simples assim.
Efeitos Visuais Invisíveis
Sim, também existem efeitos visuais “invisíveis”. Aqueles que dão um trabalhão para fazer, mas ninguém percebe que eles existem. Filmes de época, por exemplo, exigem esse tipo de recurso para deixar as ruas das cidades do jeito que elas eram no período retratado. Por exemplo, “Tim Maia” (2014), de Mauro Lima, foi rodado no Rio de Janeiro, e a produção teve que fazer interferências em uma locação para que parecesse um cantinho de Londres. Caminhões estacionados foram “transformados” em ônibus vermelhos de dois andares. Já em “Bingo: O Rei das Manhãs” (2017), de Daniel Rezende, centenas de ares-condicionados precisaram ser “apagados”, assim como grafites em paredões e ciclovias. Tudo maquiado para garantir a viagem no tempo.
Só que o mais impressionante efeito visual invisível foi o de “Tudo Que Aprendemos Juntos” (2015), de Sérgio Machado. O desafio foi fazer Lázaro Ramos tocar violino como um virtuose em apenas um mês. Sabe qual foi o truque? Eles criaram um Lázaro digital e o colocaram no corpo de um jovem mestre no instrumento. Fizeram um scan da cabeça do ator a partir de oitenta fotos de close do seu rosto, e essas fotos foram reunidas em uma malha digital. A iluminação foi ajustada por computador. Sérgio Machado escalou um especialista só para os pelos e outro para a mecanização, que é colocar os “ossos” dentro da “carne”. O resultado é assombroso de bom.
Efeitos do Além
“Malasartes e o Duelo com a Morte” (2017), de Paulo Morelli, é considerado o filme brasileiro com o maior número de efeitos visuais já realizado no país. Conta com muitas cenas construídas digitalmente do nada, sobre tela verde (que é como uma página em branco para ser preenchida pelos efeitos e os cenários na pós-produção). Pouca coisa foi realmente montada em estúdio. A finalização demorou cerca de dois anos e mobilizou uma centena de profissionais. Os efeitos foram colocados a serviço da história fantástica, com elementos tenebrosos, encantados, em que atores dão saltos, e velas ganham vida.
Falando em construção digital de ambientes incríveis, mais de 80% de “Nosso Lar 2: Os Mensageiros” (2024), de Wagner de Assis, apresenta cenários digitais. Só assim para criar na tela, com boa dose de credibilidade, um mundo além da vida, entre a luz e as trevas.
Aproveite que está aqui para clicar neste link e conferir o episódio do TRAZ A PIPOCA, com as participações do ator Edson Celulari e Wagner de Assis, diretor e roteirista de “Nosso Lar 2: Os Mensageiros”.
Já Rosane Svartman resolveu ousar de modo diferente em “Pluft, o Fantasminha” (2022), adaptação da peça de Maria Clara Machado. Para criar uma atmosfera etérea e compor os efeitos com fantasmas, ela realizou filmagens subaquáticas. Guardando-se as devidas proporções, algo parecido foi feito em “Avatar: O Caminho da Água” (2022). Regina mergulhou os intérpretes das aparições em uma piscina do Corpo de Bombeiros de Franco Rocha, no interior de São Paulo. É por isso que eles flutuam em cena. Haja fôlego.
Há alguns anos, Ricardo Bardal, supervisor de efeitos especiais de “Malasartes e o Duelo com a Morte”, disse em entrevista a Kiko Mollica, do Canal Brasil, que o nosso país não deve nada a Hollywood em termos de qualidade. O que falta são projetos. Mas o Brasil está exportando mão de obra especializada, já que nosso mercado não a absorve como deveria. Sabia que teve um brasileiro na equipe de modeladores de esculturas digitais que desenvolveu a armadura do Homem de Ferro? É ou não é motivo de orgulho?
Nosso mercado de efeitos visuais vai crescer. Vai, sim! É só questão de tempo.
OS FILMES MAIS ESPERADOS DE 2024
O ano começou, e a gente já tá contando os dias para assistir às grandes estreias nos cinemas. Para você já ir organizando a sua agenda, destacamos as previsões de lançamentos dos títulos mais esperados de 2024. Se liga só:
FURIOSA: UMA SAGA MAD MAX
O filme de ficção científica pós-apocalíptica traz a origem da guerreira renegada Furiosa e sua trajetória até se unir a Max em “Mad Max: Estrada da Fúria” (2015). Estrelado por Anya Taylor-Joy, Chris Hemsworth e Tom Burke, o longa estreia no dia 23 de maio.
DIVERTIDA MENTE 2
Riley cresceu e precisa lidar com os desafios e novas emoções da adolescência. O filme que é um queridinho do público já bateu recorde antes mesmo do lançamento. O teaser de divulgação foi o mais assistido da Disney e teve um alcance de 150 milhões de visualizações em apenas um dia. “Divertida Mente 2” chega às salas escuras em 14 de junho.
DEADPOOL 3
O anti-herói mais descolado e debochado da Marvel chega aos cinemas no dia 26 julho. Dessa vez, Wolverine também estará em cena e dividirá o protagonismo com o mercenário tagarela.
CORINGA 2
O novo filme aposta em uma pegada musical e traz a nossa querida Lady Gaga no papel de Arlequina. “Coringa 2” tem estreia prevista para 4 de outubro e continua a história de Arthur Fleck (Joaquin Phoenix) após a revolução que ele comandou contra a elite de Gotham City.
O QUE VEM POR AÍ…
VALEU A PIPOCA?
ELES CRESCERAM
A turminha que marcou gerações com as famosas revistas em quadrinhos está de volta aos cinemas em um estilo totalmente diferente a que o público estava acostumado. Vamos começar pela mudança de elenco. As crianças que ganharam o coração dos fãs e protagonizaram os filmes “Laços” (2019) e “Lições” (2021) foram substituídas pelos atores Sophia Valverde (Mônica), Xande Valois (Cebola), Bianca Paiva (Magali), Théo Salomão (Cascão) e Carol Roberto (Milena), que interpretam a versão adolescente dos protagonistas e trazem uma pegada mais teen para o longa.
No título, os alunos do Colégio Limoeiro descobrem que o museu da escola vai a leilão e, na luta para recuperá-lo, são surpreendidos pelo vilão Cabeça de Balde, que espalha o caos pela cidade ao atacá-los e levá-los a um estado catatônico.
É MAGIA E MISTÉRIO DEMAIS
A história assustadora e cômica é bem parecida com a do desenho “Scooby-Doo”, que aposta em um grupo de jovens envolvidos em um terror misterioso. No entanto, o filme focou demais o horror e o uso de efeitos especiais – que, diga-se de passagem, foram bem fracos – e deixou o roteiro cheio de furos. Nenhum dos conflitos criados pelos personagens – a disputa pelo Grêmio entre Mônica e Carminha, a paixão de Cebola (ex-Cebolinha) e DC por Mônica, os dramas característicos da adolescência – foi fechado, mas abordado superficialmente e se perdeu no decorrer do filme.
FINAL FRACO
O final deixa claro que “Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo” terá continuação. Para isso, foi utilizado o artifício de cena pós-crédito, e o título encerra com um novo mistério a ser resolvido. O que foi decepcionante, pois, além de mal trabalhado, o final não trouxe um fechamento para a história, e o gancho para o próximo filme ficou apelativo.
O legal dos efeitos práticos em colocar uma ideia de como seria um mundo ( dependendo do filme) futurístico que muitos não poderão prestigiar , sendo para o bem ou para o mal. Gostaria de algum com esses efeitos, que tal as grandes navegações vindo da Europa em direções as Americas? .